segunda-feira, 6 de fevereiro de 2017

Ser Ilhoa...


"(...) Conheço uns quantos açorianos e estive em (apenas) duas ilhas dos Açores, mas as definições abrangentes do dicionário e os versos irónicos de Nemésio jogam bem com aquilo que tenho observado. 

Porque nenhum dos açorianos meus amigos ou conhecidos apagou por completo uma pontinha de tristeza que é umas vezes quase depressiva, outras apenas dormente, melancólica, entorpecida, justamente. Como se assumissem, mais do que a outra gente, a sua condição de ilha, ilha humana, um homem como uma terra rodeada de mar por todos os lados. Quase todos os açorianos com quem me cruzei são divertidos, sarcásticos, portam-se um pouco como se viessem “de fora” e quisessem acentuar esse estatuto. Mas todos são também um bocadinho desanimados, como se uma nuvem de chuva os perseguisse. E do que mais gosto neles, lembram-me os irlandeses, celtas ilhéus, gente que fez do torpor grande poesia.


(...) Por isso valorizei sempre nos Açores e nos açorianos uma certa distância. (...) E apreciei sempre nos açorianos uma certa insatisfação (...).


É como se um açoriano fosse um primo afastado, daqueles que têm a tristeza inexplicável das pessoas que conhecemos mal, mas que usam um nome igual ao nosso, um nome que vem de longe, e que eles usam com um orgulho de aristocrata."

Texto de Pedro Mexia

Ilha do Corvo no plano de fundo, vista da ilha das Flores



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